quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Artistas imortais: a maldição da genialidade

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 Nicole Kidman em "As Horas" (2002)


Por Débora Figueiredo 
Da Revista Obvious


Os livros de história guardados no baú poeirento, mostram-nos o quão tênue é a linha que separa a genialidade da loucura. Se muitas ideias geniais foram recriminadas no passado por serem fruto de uma mente doentia, hoje ninguém duvida delas. Na pintura, na escrita ou na música, todos se unem por características comuns. São determinados com a ajuda amaldiçoada de obsessões e distúrbios mentais, possuem uma misteriosa melancolia que fascina a Sétima Arte e a comunidade cientifica. Gênios, loucos e criativos suicidam-se, mas as obras, são imortais. François La Rochefoucauld, afirmou que quem vive sem loucura não é tão sábio como pensa.Caracterizada por rasgos de loucura e criatividade, a inteligência assume o ponto mais elevado.

Liev Tolstói, Vincent Van Gogh, Fernando Pessoa, Ernest Hemingway, Jonh Nash, Ludwig Von Beethoven, Florbela Espanca, Silvya Plath, Virgínia Woolf e Kurt Cobain, fazem parte de uma interminável lista de artistas célebres, portadores de transtornos psicológicos.

Detentores de um poder criativo extraordinário, imortalizaram as suas obras atormentados com variações de humor, obsessões, dependência de álcool e drogas. Através do processo catártico - uma terapia desenvolvida por Breuer - os artistas purgavam as suas paixões criando obras-primas. Hoje sabemos que um intelecto superior aliado a um transtorno psicológico, cria as melhores condições para o surgimento de um tipo de genialidade que ingressa para a história da humanidade.

Determinados, não conhecem limites para atingir objectivos distinguindo-se assim de todos os outros.Os portadores de transtornos bipolares, são abençoados com a maldição de um cérebro que trabalha a alta velocidade 24 horas por dia. Despejam em abundância na fase maníaca ideias invulgares, pouco sensatas e perturbadas, elevando a possibilidade de uma criação incomparável! Mesmo que produzam algo menosprezado, o fato de as ideias fluírem com rapidez, estimula a sua criação artística. Fugindo do protótipo de normalidade, foram também alvo de interesse pela indústria cinematográfica.

A Sétima Arte, não ficou indiferente à representação artística de indivíduos que vivem no seu mundo imaginário, onde criam o seu próprio universo de dor e alienação. E porque o atrativo é o invulgar, estranho e desigual, onde o apelo dramático se salienta quando retratado, ir além das encenações simplistas e clichês é crucial para o sucesso.

Em 2001, no filme de Stephen Daldry, “As Horas”, onde o enredo nos mostra a história de três mulheres que carregam o peso do fracasso e insatisfação quotidiana, Nicole Kidman interpreta as crises, ânsias e tentativas de suicídio de Virginia Woolf. Os cineastas têm ferramentas para retratar mundos distintos, são uma máquina de imaginação que representa um mundo aparte. Os gênios já lá vivem e alguns, como o pintor norueguês Edvard Munch (1862- 1944), recusam-se a abandoná-lo.

Diagnosticado como maníaco-depressivo, Munch, recusou tratamento temendo destruir o seu poder criativo. Ciente do risco de agravamento da doença ao longo tempo, o amor pela loucura artística, fincou a decisão.“Prefiro continuar a sofrer desse mal, porque faz parte de mim e da minha arte!”

Para além de todas estas características em comum, os génios que transportam o fardo de uma doença mental, possuem outro aspecto em comum: a manifestação de melancolia extrema. James C. Kaufman, cunhou o termo “Efeito Sylvia Plath” em 2001, caracterizando todos os escritores suscetíveis a uma doença mental e demonstrou através de vários estudos - incluindo um artigo no New York Times - que a tendência é mais acentuada nas mulheres poetas.

O suicido é também recorrente. Sylvia Plath, suicidou-se a 11 de Fevereiro de 1963, ligando o gás do forno após tomar uma dose excessiva de comprimidos. Dois anos antes, Ernest Hemingway terminava também o seu percurso voluntariamente com um tiro na cabeça. Virginia Woolf, encheu os bolsos de pedras e entrou no rio Ouse.

No Problema XXX, Aristóteles lança a pergunta fulcral: “Qual o motivo pelo qual todos os homens da filosofia, poesia e artes são manifestamente melancólicos?” Hoje, ainda não temos resposta, mas aceitar a compatibilidade entre a doença mental e o dom é um progresso.



"Ser gênio significa, em primeiro lugar, a transcendente capacidade de sofrer."
(Thomas Carlyle)

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