segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Maria Callas, a mais trágica das divas


Por Bernardo Mariano
Do Diário de Notícias

Faz hoje 36 anos, Maria Callas - a cantora lírica de origem grega, nascida a 2 de Dezembro de 1923, em Nova Iorque - foi descoberta no seu apartamento em Paris, morta. Causa: ataque cardíaco, provavelmente devido a ingestão excessiva de tranquilizantes. Mas, como sempre quando se trata de figuras desta dimensão, há outras teorias… Callas fechara-se sobre si própria e vivia praticamente reclusa na capital francesa. A última vez que cantara em público fora quase três anos antes, a 11 de Novembro de 1974, no Japão.

A sua vida pessoal jamais recuperara do fiasco da relação com Aristóteles Onassis - que falecera dois anos e meio antes, também em Paris. A via de pedagoga, que tentara no início da década de 70, na Juilliard School, não se revelara nem satisfatória nem promissora. Aceitara gravar duetos com o tenor Giuseppe Di Stefano, mas a editora não lhes achou qualidade suficiente para merecerem edição. Empreendera com o mesmo cantor uma longa digressão para angariação de fundos, mas a memória desta aventura das duas ex-glórias do canto italiano foi muito mais do foro do glamour do que da excelência performativa. Para trás ficara ainda uma tentativa de regresso aos palcos, no Reggio de Turim, com As Vésperas Sicilianas, de Verdi, massacrada pela crítica. Restava-lhe a desaparição pública. E foi o que fez. As cinzas foram dispersas pelo mar Egeu, mas antes passaram pelo cemitério Père Lachaise.

A única cerimónia fúnebre ocorreu na catedral ortodoxa grega de Santo Estêvão, em Paris, na rua Georges Bizet. Curioso "retorno", este: Bizet, sim, o da Carmen, obra e autor dos quais Callas escrevera que haviam decidido o rumo da sua vida. Miúda ainda, esta filha de imigrantes gregos postava-se junto ao rádio, em Nova Iorque, e ouvia a diva Rosa Ponselle (1897-1981) - de quem um dia disse ser "a maior entre as cantoras" - cantar a Carmen.

Uma década depois, 1947 foi o ano prodigioso: estreia-se em Itália a 2 de Agosto (na Arena de Verona, como Gioconda na ópera homónima de Ponchielli); conhece o maestro Tullio Serafin (1878-1968), ao qual ficarão associados muitos dos seus maiores sucessos nos palcos e em estúdio; e inicia um romance com Giovanni Battista Meneghini, com quem casará em Abril de 1949… em Verona.

O mito começou aí a sua ascensão até ao firmamento das dive assolute. Tanto, que cedo se lhe refeririam como La Divina. A divina que um dia desceu sobre Lisboa para aqui deixar duas Violettas (de La Traviata). Foi em Março de 1958.


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