segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Quero ser Águeda Cabral


Neste domingo (23), faleceu a professora do Departamento de Comunicação Social da UEPB, Águeda Cabral. A docente sofria de um câncer de pele muito agressivo, que foi para o sistema linfático. Não conheci Águeda muito de perto e não cheguei a ter aulas com ela, mas essa professora me ensinou muito, certamente bem mais do que se com ela em uma sala de aula estivesse. 
Águeda me ensinou sobre o amor entre as pessoas - logo eu, tão sem paciência para o trato social, tão cansada do que julgo muito traquejo e conveniência e pouca verdade e respeito. Ela mobilizou uma Universidade e depois uma cidade inteira, amigos, colegas, alunos e desconhecidos que participaram da "Flor da Pele - Ação entre Amigos", campanha que ajudou no seu tratamento e foi desenvolvida no Facebook. Ontem, antes de dormir, pensei comigo mesma: se Deus existe, nessa noite ele ouviu inúmeras orações em nome de Águeda para que o Pai  a receba com carinho entre os seus. E, naquele momento, por ter inspirado tanto amor, tanta admiração, eu desejei ser ela. 
Eu quero ser Águeda Cabral porque não tenho visto em mim a força dela. Tenho tanto medo da vida. Tenho tanto medo da morte. Nos dias bons, não deixo de invocar o universo e pedir que minha vida congele, para que não perca o emprego, para que uma doença não me assole, para que minha família permaneça intacta, para que ninguém que amo morra. Eu me pergunto se teria a coragem de não desistir. De fazer como ela, frente à um chamado da morte. A morte chamou, Águeda foi gentil com ela, mas não a abraçou, convidou-a para um passeio. A tempestade chegou, e eram perigosas suas promessas, mas Águeda não se desesperou, resolveu brincar na chuva (e chamou os demais para brincar). 
Eu quero ser Águeda Cabral porque minha fé na vida e nas pessoas já não é mais a mesma. Porque quando eu tenho uma dor de cabeça, desejo que o mundo se exploda e me leve junto. Porque deixei de assistir noticiários para não chorar todos os dias - por sermos nós humanos o que somos, tão longe, infinitamente longe do que poderíamos ser. Porque quando estou sem dinheiro no final do mês, fico irritadiça. Imagine não ter dinheiro suficiente para o próprio tratamento, posto que infelizmente, dinheiro às vezes compra saúde. Porque quando vejo pessoas que só têm amigos ricos, penso que isso não é amizade, é negócio, é contrato, é querer ter vantagens e quando vejo pessoas que só têm amigos pobres, imagino os próximos candidatos nas eleições. Eu quero ter o sorriso confiante e doce dela, mesmo nos últimos dias. Esse sorriso tranquilo é coragem, é crença em todos nós, é amor por existir. 
Foram de verdade lindas as mensagens deixadas por ela. A vida não é uma brincadeira, mas é possível sorrir mesmo nos momentos mais duros. Há muitas pessoas amargas, mas mesmo elas são capazes de se solidarizar, de se sensibilizar, de ajudar. Águeda provocou o que há de melhor em nós. Dizem que esse é o sentido da vida, estimular ao redor os sentimentos nobres. É por isso que se ela estivesse em um romance seria minha heroína favorita.  E que me desculpem os suicidas ou aqueles que entregam os pontos quando se vêem enredados em graves problemas - afinal, cada um sabe da sua dor - mas enfrentar a vida, ter a dignidade de ir até o fim, de cabeça erguida, é fundamental. 

* A autora desse texto é aluna do curso de Comunicação Social da UEPB e pediu para não se identificar.

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