terça-feira, 3 de setembro de 2013

Games eletrônicos: narrativas cinematográficas jogáveis

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 "Cena" de Uncharted


Por Jeferson Scholz
Da Revista Obvious


Entre todas as tramas possíveis e imagináveis dentro da sétima arte, um novo nível de interação entre espectador e história foi alcançado. Pegue seu controle, seus games favoritos e prepare-se para embarcar no mundo dos enredos dos jogos eletrônicos. Não fique surpreso: há muito mais semelhanças entre estes dois mundos do que se pode imaginar.

Imagine um caçador de tesouros que, para encontrar desde a lendária fortuna de El Dorado até à cidade perdida de Atlântida, acaba enfrentando circunstâncias que podem ser fatais. Agora pense em um policial que precisa acabar com uma nova droga fatal que domina as ruas, enquanto busca vingança pelo assassinato de sua filha e esposa. Considere ainda o mundo da imaginação, onde tudo é possível e a fantasia não tem limites; você corre um grande perigo com o Negativitron, e somente bonequinhos de pano podem salvá-lo. Bom, estes não são blockbusters, filmes de ação ou animações da Disney. Eis o mundo dos jogos eletrônicos.

Claro, não raro as tramas destes maravilhosos mecanismos de absorção de tempo são o que menos importa, dados todos os recursos que prendem a atenção de um jogador por horas sem fim, os chamados ludemas. Mas, alheando-nos deste contexto, o que mais impressiona é como certos jogos apresentam ao mundo verdadeiras obras primas em termos de enredo. Tendo em vista o avanço galopante da tecnologia e a criatividade crescente dos estúdios responsáveis por franquias milionárias, algumas histórias jogáveis trazem aspectos que merecem atenção.

Do ponto de vista narrativo, muitos games podem facilmente se comparar com produções cinematográficas. Talvez isso tenha relação com sua origem: em 1958, o laboratório americano Brookhaven National Laboratory desenvolveu "Tennis for Two". O programa consistia em uma reprodução rudimentar de uma partida de tênis, e foi o precursor dos jogos eletrônicos. Embora não tivesse uma trama, ele reproduzia um esporte - um aspecto da realidade serviu para mostrar aos desenvolvedores que a nova invenção também servia para contar histórias.

A partir de então, este universo jamais foi o mesmo. Com a evolução de sistemas e programas dos jogos eletrônicos e das plataformas que os rodavam, nas décadas seguintes os gamers fizeram tudo - desde participar nas invasões espaciais no icônico Atari, a ajudar a missão do simpático encanador Mario, que tinha de salvar a princesa no Super-Nintendo. Quando os 16 e 32 bits de cores evoluíram para gráficos 3D com a Sony e o Playstation, o cinema adentrou de vez neste novo território. "Silent Hill" e "Resident Evil" deram uma nova dimensão ao conceito de histórias de terror jogáveis, enquanto MetalGear Solid elevou a trama de ação a um novo nível.

Agora, equipes inteiras de desenvolvedores, matemáticos, designers e, claro, cineastas, se dedicam a fazer franquias milionárias que tenham acima de tudo uma boa história. Não é à toa que em qualquer gênero, seja nos jogos sangrentos que esbanjam mortes, tiros e violência ou naqueles de luta onde as regras são ditadas pela pancadaria, há sempre um enredo fílmico por trás de tudo. Todas as produções de cinema cujos roteiros são baseados em games confirmam este fato – "Alone in the Dark", "Doom", "Hitman", "Street Fighter" e "Tomb Raider" que o digam.

E outra prova de que hoje os jogos eletrônicos são narrativas da sétima arte participáveis é o modo como ambos usam temas universais em seus enredos. Mundos fantásticos e futuristas, mistérios, conspirações, quase não há limites nas similaridades criativas e ideológicas destas duas áreas. Guerras de toda a sorte, tanto medievais quanto modernas, são grandemente exploradas nos filmes e também nos games. E o que dizer do suspense, das investigações policiais, as aventuras e as jornadas épicas? Uma prateleira da sessão de eletrônicos pode muitas vezes ser confundida com os corredores cada vez mais desabitados das videolocadoras.

De toda a experiência de vivenciar realidades que os games proporcionam, não há como negar que estes estão cada vez mais parecidos com os filmes, seja por suas narrativas ou pelo jeito como contam uma história. E se nem "Uncharted", "Max Payne" ou "Little Big Planet", citados no começo deste artigo, convenceram você disto, eis uma dica: tire um tempo para jogar qualquer um deles ou outro de sua preferência, curta tudo o que ele tem para oferecer e preste atenção na sua trama. Com certeza você se sentirá vivendo um bom filme.


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